sábado, 31 de março de 2012

VALEU, MALUCO!


              Evidentemente que não conseguiríamos escapar incólumes, para todo o sempre, aos indeterminismos que o destino imputa aos seres viventes. A máxima da dádiva da vida prevalecerá, indefectivelmente, sobre a temporalidade humana: tudo que na face do planeta habita e vive, tem início, meio e fim.
     Vivenciamos, por um intervalo de tempo de uns tantos anos, uma era de ouro. Bela e feliz! Éramos maduros o suficiente para distinguir a quem nossos corações poderiam pertencer e tínhamos a sensibilidade necessária para perceber a bilateralidade que nossos sentimentos provocavam; e as simbioses quase perfeitas que daí se originavam.
     Imaginávamos, do alto das nossas ingenuidades, uma irrealidade de alegria perene e, despreocupadamente, aproveitávamos para dar vazão às nossas amizades sinceras, tão descompromissadas e genuínas, quanto alvissareiras e, sobretudo, sobranceiras.
     No fundo sabíamos que um dia, inexoravelmente, o cristal se partiria. Apenas não poderíamos supor que  fosse tão dolorido e que provocasse um vácuo tão acentuado nas nossas existências.
     Incapazes que compreendermos o real significado dos acontecimentos, ficamos a nos perguntar a razão deles. Quem determina quando, onde, como e por quê? Não há respostas plausíveis e nada do que se diga mudará a cruenta situação.  Ainda que a morte seja inerente ao processo da vida, a irreversibilidade dela nos faz imergir num universo onde o supra-realismo impera. Surpreendidos pela avalanche da eventualidade, atingimos um elevado grau de entorpecimento e tudo que conseguimos identificar dentro de nós é a saudade.
     E é em nome desta saudade que me dirijo a ti, meu maravilhoso, equânime e magnânimo amigo, como se ainda tivessem os teus ouvidos, o dom de me escutar. Como se ainda pudéssemos sonhar os mesmos sonhos. Como se nossos planos ainda lograssem se realizar. Como se esta tua tão prematura partida não conseguisse modificar o que sempre nos foi caro e comum.
     Elogiar-te é chover no molhado. Todos que contigo conviveram conhecem teus inúmeros predicados. És uma boa alma e isto é, definitivamente, imperecível. Fica o teu exemplo e através dele conseguistes te transformar no teu próprio legado. O que guardo de ti é aquilo que sempre fostes: um grande companheiro, sobremaneira, como raríssimos conseguem ser. Tenho um imenso orgulho de ter tido a oportunidade de usufruir do teu carinho. Dizem que os verdadeiros amigos contam-se nos dedos de uma só mão; pura verdade, vez que eles são poucos, necessários, essenciais.Agora sem um deles, não mais poderei viver sem me sentir como se tivessem amputado uma parte de mim.
     Os cantos da Redonda continuarão a ecoar pelos espaços opacos do tempo. O vento leste marinho permanecerá com suas rajadas frias, sobre o ambiente que tanto amavas.  A despeito da enorme tristeza que ora nos aflige, a vida continua. É a suprema lei natural a nos mostrar o quanto ela pode se revelar incognoscível.
     Como você mesmo diria:
     Foi sensacional, doido!
     Valeu, cara!
     Valeu, maluco!

2 comentários:

  1. Diante da inexorabilidade do fim, o exito da existencia tanto nos conforta quanto nos mal trata. Certo mesmo eh aquele filosofo que enunciou: " Penso, Logo desisto" pelo menos de pensar. E La nave va..

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Livre pensar, é só pensar. Mas na cabeça de nada lhe serve. Exprima-o!