quarta-feira, 31 de julho de 2013

OH, PEDAÇO DE MIM!




Quando eras ainda pequerrucha e por vezes, doentinha e os teus estados febris inspiravam cuidados, aproximava-me de ti, aflito: os teus choros sempre foram as minhas piores músicas! Impotente, agarrava-te e encostando-me à tua pele, à tua cabeça, orava silenciosamente, rogando a tua cura, suplicando para que as tuas mazelas, as tuas dores, fossem a mim transferidas, em tentativas desesperadas de te proteger de qualquer mal.
Passados todos esses anos, vejo-te, no auge destas minhas estranhas dores sobre macas hospitalares e deste medo incontrolável de me ver submetido a inadiáveis intervenções cirúrgicas, acalentando docemente o meu espírito, afagando meus cabelos, encorajando-me com palavras tão precisas e realísticas.
Débil, naquele momento, eu realmente precisava daquele sopro, daquele incentivo, daquele alento. O incrível não foi consegui-los de ti: assim eu já o esperava. Mais que tudo, foi descobrir uma fonte de respiração e de força naquele pedaço de mim; foi a sensação de, por algum momento da minha vida, ter conseguido trilhar o caminho certo.

Meu abdómen ainda dói; e deve doer ainda alguns dias. Meu coração, não! Este apenas regozija-se à minha alma, de júbilo, por ter-te!