terça-feira, 6 de julho de 2010

FLYING DUTCHMAN ESTONTEANTE


A coisa terminou um tanto complicada para mim e para a seleção brasileira, no final da manhã, início de tarde, daquela sexta-feira fatídica.
E não era pra menos. Você se ver obrigado a entrar em campo, com uma responsabilidade daquela, logo após acordar, até mesmo um tanto bocejante... E, ainda mais de ressaca: quinta à noite sempre tem caranguejo na minha cidade e o delicioso crustáceo decápode braquiúro combina com cerveja, muita cerveja.
Deveria haver uma lei universal que instituísse a prática futebolística, assim, algo em torno do crepúsculo vespertino, quando ainda há luz suficiente para um bom jogo e o poder do Sol vai se esvaecendo, tornando possível o contato entre um atleta mal preparado e sua cabeça inchada, com o astro principal do nosso sistema planetário e sua capacidade de provocar enxaquecas.
Às onze horas ao raiar do dia, francamente, não há a menor condição!
Talvez isso explique, em parte, a minha ineficiência para a peleja e a inépcia das estrelas do escrete canarinho, que acabaram provocando a nossa eliminação nestas quartas-de-final da Copa da África do Sul.
Mas não foi por falta de aplicação, garanto.
O fato de ser mais um técnico, assim como todos os demais brasileiros, não me impossibilita de forma alguma, através da minha versatilidade como jogador, de atuar na cancha de qualquer praça esportiva. Posso me transformar em um coringa para os momentos mais tensos e é por isso que pulo para cabecear um cruzamento nas cidadelas adversárias, projetando ao máximo o pescoço e tenho que em seguida voltar feito um louco para ajudar na marcação; roubo bolas e as distribuo, ao mesmo tempo em que, sob a minha meta, me estico em defesas mirabolantes; bato escanteios e corro para receber a pelota e grito com os meus companheiros, exigindo a mesma garra e ainda determino, com meus fenomenais lançamentos, o melhor lado do campo para o ataque.
E vocês vão ter de convir comigo que, fazer tudo isso sentado em uma mesa de bar, é tarefa para poucos.
Ao término da contenda estou exaurido e pior, não conto, ao contrário dos profissionais muitíssimo bem remunerados do meu time, com vestiários adequados, cremes e terapêuticos específicos ou médicos e massagistas especializados. E nem tenho a capacidade de professar as desculpas amarelas que eles possuem, tentando explicar o inexplicável.
Não fosse a hidratação constante, gelada, estupidamente gelada, a que me submeto durante as partidas, poderia muito bem sair da Cabana da Negona, palco das minhas alegrias neste campeonato e desta tristeza final de eliminado, numa ambulância.
Não é à toa que, por precaução, meu carro é branco.
O que não impediu, entretanto, devida à velocidade excessivamente impressa pelo carrossel holandês, que eu saísse de lá, completamente zonzo.
É, esse negócio de laranja mecânica em quantidade exagerada, nunca fez muito bem ao meu sistema gastrointestinal.

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