quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Charles Bronson, mas pode chamar de Toinho

     Certo dia, em meados do século VI a.C., um sábio grego apresentou-se na corte de Creso, considerado o homem mais rico do mundo. O déspota lídio recebeu o visitante com hospitalidade e até mostrou-lhe o tesouro real.
     “Agora, diga-me”, perguntou o monarca, “você que já viajou bastante e viu muitas coisas. Quem é o homem mais afortunado que já encontrou?”
     “Ora, Telo de Atenas”, respondeu o visitante.
     Creso ficou atônito. Quem era esse Telo para ser mais afortunado que o próprio Creso? Então o sábio explicou. Telo fora um cidadão livre de Atenas, uma bem governada cidade-estado grega. Os filhos dele foram bravos e virtuosos e lhe haviam dado muitos netos, todos excelentes. Por fim, após uma vida longa e produtiva, Telo morrera heroicamente, lutando por seus concidadãos atenienses, que o recordavam com respeito e gratidão. O que mais poderia um homem querer?
     O que, realmente? O sábio viajante, que segundo a tradição era o grande legislador ateniense Sólon, sem dúvida sentia-se particularmente ligado a seus compatriotas. Sua mensagem, contudo, tinha a intenção de ser universal. A honra e a virtude eram mais valiosas do que a riqueza material: melhor ser um cidadão comum grego do que ser o mais poderoso monarca. Pois a riqueza e o poder podem desaparecer da noite para o dia – como Creso logo acabaria descobrindo.

(O Desabrochar Helênico, do livro A Elevação do Espírito)


     Enganou-se quem, por vê-lo trajando aquelas indefectíveis batas de brim, de gosto bastante duvidoso ou de maneira aparentemente retraída, abster-se de pronunciamentos sobre as conversas que testemunhava, não teve a sensibilidade de se aperceber do óbvio: o valor de um homem está na sua capacidade de realizar aquilo que se propõe, com dignidade.
     Solícito, duma simplicidade que extrapolava falsos valores mundanos. Muito condizente com o ambiente que representou por toda a vida. A simplicidade, o grau máximo da sofisticação, costuma passar ao largo das mentes tacanhas.
     Discreto o suficiente para dissimular nossas enxeridas indagações a respeito de alguns eventuais outros clientes. Confiável, seria o termo mais adequado. Duvido que, igualmente, divulgasse aos outros, os nossos tolos devaneios. Que ele bem conhecia: por vezes, tornava-se nosso confidente.
     Dedicado ao seu labor, foi o único garçom que conheci que nunca fez biquinhos de muxoxo aos nossos pedidos de mais uma saideira (que ele bem sabia não a ser a última). Franzino, transportava aquelas enormes pilhas de mesas e cadeiras, sem reclamar. E, mesmo depauperado, tinha disposição para te atender, na areia escaldante daquela praia linda ou fora dela, mas com alegria, porque atendimento sem boa vontade é obrigação. 
      Quem mais, em três décadas, conviveria contigo sorridentemente, pelo simples fato de ser bom?
     Acima de tudo, amigo. Desses que se comprazem com a tua presença, cujos olhos se iluminam quando te veem. Encontrá-lo era garantida alegria, prenúncio de ótimos momentos, ali, ao lado dos amigos, entre os quais, ele era mais um.
     Adoraria acreditar num improvável reencontro. Guardo-te comigo, da forma que sempre fostes: completo. Uma pessoa rara.
     Resta-me agradecer-te por tudo que fizestes a mim e aos meus, por pura afeição.
     Fica na paz, Bonitão!

Um comentário:

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