Durante certo tempo, nos idos da década de setenta, o programa Fantástico, O Show da Vida encerrava suas apresentações dominicais com um quadro do genial Chico Anísio, que transvertido em um dos seus personagens, passava uma mensagem semanal para a reflexão do grande público e que, inopinadamente, nada possuía de comicidade.
O personagem era um profeta, a que os outros figurantes chamavam de “mestre” e tinha a aparência de um patriarca bíblico – um hollywoodiano Charlton Heston pós-moderno, uma espécie de Moisés tupiniquim – com aquela aparência grave e respeitável que convém às figuras proclamadoras das pretensas verdades e que o maior ator brasileiro de todos os tempos encarnava com maestria absoluta.
Em um desses esquetes, duas pessoas indagavam ao grande sábio resposta às suas apreensões, idênticas, mas originadas por situações antagônicas.
A primeira buscava saber: “- Mestre, obrigatoriamente irei me transferir de cidade e gostaria de saber se essa alteração na minha vida será boa para mim!”. O ancião questionava: “- Como é sua vida agora?”. A pronta resposta de que sua condição era estável, com bom convívio no trabalho e nos seus relacionamentos, que se sentia feliz e que a modificação da própria realidade se devia a compromissos profissionais, dava margem à réplica sucinta do prudente homem: “– Vá com confiança, você se dará bem em qualquer lugar!”.
A segunda criatura, atormentada pela mesmíssima controvérsia a respeito de uma transformação tão radical, tornava claro que seu anseio por nova moradia devia-se exclusivamente à crítica situação que vivenciava, com dificuldades de toda ordem, financeira, familiar e de autoconfiança e que tinha esperança que em um novo canto se processaria as modificações tão desejadas e necessárias. A enfática sentença do guru era por demais irrefutável para não ser levada em consideração: “- Continue onde está, procure antes regularizar sua condição e encontrar a paz aqui mesmo!”
Definitivamente, a felicidade e bem-estar não são questões geográficas.
Definitivamente, a felicidade e bem-estar não são questões geográficas.
Não importa o que acontece. O que verdadeiramente tem relevância é a tua opinião sobre o que acontece!
Neste final de ano e início de um novo ciclo, tenho acompanhado os comentários dos meus amigos nas redes sociais quanto às expectativas promissoras que as esperanças, sempre renovadas, fazem florescer dentro dos nossos espíritos. E também sobre os malogros e reveses que o destino, rotineiramente, imputa a todos, indistintamente e em todos os aspectos, ao longo de qualquer intervalo.
Desejos de bonança e prosperidade, efusivos e em quantidades condizentes com a estação, se misturam a impropérios e protestos por situações pouco propícias vivenciadas e creditadas ao acaso, como se um ou outro tivessem relação direta com a mudança do calendário.
Assim, vejo um “Tudo diferente em 2012!!! Só rindo de mim mesmo e muito...” se misturar a um “Feliz Ano Novo queridos amigos... amo vcs.............. curtindo Canoa Quebrada tudo de bom”. Um “FELIZ FUTURO NOVO A TODOS...” ou “UM 2012 DUCA PARA TODOS NÓS!!!!” publicado ao mesmo tempo de um “Tchau... 2011 leve junto todas vibrações negativas” ou um “Os últimos momentos de um ano bosta tinham que ser de frente para o mar ... rsrs”, apenas evidenciam as diferentes situações que diferentes criaturas experimentaram. Foi bom ou ótimo para alguns. Para outros nem tanto. É natural. Sempre foi assim e vai continuar sendo.
Não pude deixar de me comprazer com os mais chegados que experimentam agora doces sensações, e as exponenciam; tampouco de me preocupar com os que tentam, com suas inflamações, lembrar que o pessimismo também habita o mundo. Entretanto, quando li minha filha postar “Comendo um churrasquinho gaúcho delicioso feito pelo love Dalmo Gomes. Acaba nãaaao 2011”, me ocorreu que a felicidade existe e tem de ser disseminada. Sofrer é tolice. Deliberadamente, chega a ser irracional.
A vida foi feita para ser vivida e saber fazê-lo é uma arte.
Vamos viver enquanto podemos.
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