O celular tocou em plena madrugada, contudo, não me encontrou, como seria normal, jogado nos braços de Morfeu.
Naquela noite estava dando uma virada, fazendo o revestimento de um balcão numa loja 24 horas. Serviço que, pelo manuseio de cola de contato e seus odores desagradáveis, somente poderia ser executado naquele turno.
Ainda que em plena atividade às três da manhã, não pude deixar de me alarmar com o avançado da hora da ligação. Era meu companheiro Cesar Herbster que, sem mais rodeios, me bateu, na lata: - Tenho uma notícia ruim para te dar.
Meu coração deu um pulo! Imaginei, naquele momento, que um amigo comum nosso, convalescente de uma intervenção cirúrgica recente e ainda hospitalizado, não tivesse resistido à dura situação que estava atravessando.
Imaginei errado.
Naquela noite estava dando uma virada, fazendo o revestimento de um balcão numa loja 24 horas. Serviço que, pelo manuseio de cola de contato e seus odores desagradáveis, somente poderia ser executado naquele turno.
Ainda que em plena atividade às três da manhã, não pude deixar de me alarmar com o avançado da hora da ligação. Era meu companheiro Cesar Herbster que, sem mais rodeios, me bateu, na lata: - Tenho uma notícia ruim para te dar.
Meu coração deu um pulo! Imaginei, naquele momento, que um amigo comum nosso, convalescente de uma intervenção cirúrgica recente e ainda hospitalizado, não tivesse resistido à dura situação que estava atravessando.
Imaginei errado.
Ranildo não foi meu colega de infância, nem mesmo conhecido de longa data. É bem verdade que sua irmã era amiga da minha esposa e nos relacionávamos há muitos anos, mas não a sabia como tal. E até a data da fatídica chamada, fazia pouco mais de dois anos que nos encontráramos, motivados pelo iatismo, esporte que pratico desde pequeno e que, daquele instante em diante, com a compra de um veleiro pelo próprio, passou a fazer parte da realidade dele também.
Voluntarioso e inquieto, propôs-se a recuperar o velho barco e passou a contar com a minha ajuda. Mesmo que, com a sua inexperiência na matéria, inventasse soluções improváveis para certos problemas e que, com a teimosia que lhe era característica, achasse que estava no caminho certo, era capaz de ter idéias criativas e encontrar soluções surpreendentes, por vezes. Imbuídos do mesmo propósito, brigávamos e discutíamos freqüentemente, sempre com moderação, mas, principalmente, nos divertíamos muito em brincadeiras e gargalhadas.
Emotivo nas ações, era dono de uma alma por demais leve, fruto decerto do enorme coração que carregava. Sua bondade e ingenuidade contrastavam com seu porte físico avantajado ou sua fisionomia carrancuda e quem não o conhecia, não poderia desconfiar do espírito bonachão que se ocultava por trás daquela sua meninice e dos seus trejeitos, exagerados, até.
Irascível em alguns momentos, tinha a capacidade de retornar à normalidade rapidamente, como se nada tivesse acontecido e possuía o raro dom de se desculpar quando se julgava errado, sobretudo nos aspectos interpessoais.
Identificávamo-nos em várias atividades, tínhamos vários gostos em comum. Paixões por motocicletas, bikes e máquinas, embarcações e trecos, além da simpatia por atividades como canoagem, camping ou qualquer coisa que se relacionasse com a Natureza ou aventura.
Perseguidor dos seus ideais, chegou a viajar como tripulante do Pilar Rossi, barco do Piquet que acompanhava o circuito de Fórmula 1, em portos como Lusben Viareggio, Valência, Barcelona e Monte Carlo e pôde assim, saciar, um tanto, sua sede de mar, que o destino acabaria por tirar-lhe.
Impetuoso, tentou evitar o roubo do seu carro, pendurando-se drasticamente por fora do veículo em movimento e colidindo com outro estacionado, o que acabou sendo-lhe fatal. Uma avaliação errônea da casualidade, pouco condizente com sua habilidade de safar-se em situações de perigo, tirou-lhe a vida.
Hoje faz dois anos deste triste episódio. Lamentavelmente, perdi meu amigo. Diz-se que os bons vão-se cedo. Não sei, já vi muita gente boa morrer velha, o que me sugere que Ranildo poderia muito bem estar vivo.
Na sua missa de corpo presente, o sacerdote, no afã de utilizá-lo como exemplo às demais pessoas para não reagirem aos eventuais assaltos a que todos estamos sujeitos, explanou demoradamente sobre as circunstâncias de como ele morreu. Poderia ter mudado o tom do discurso.
Preferiria tê-lo ouvido falar sobre a maneira como ele viveu: com liberdade, sentimento e alegria.
Saudade grande, irmão!
Voluntarioso e inquieto, propôs-se a recuperar o velho barco e passou a contar com a minha ajuda. Mesmo que, com a sua inexperiência na matéria, inventasse soluções improváveis para certos problemas e que, com a teimosia que lhe era característica, achasse que estava no caminho certo, era capaz de ter idéias criativas e encontrar soluções surpreendentes, por vezes. Imbuídos do mesmo propósito, brigávamos e discutíamos freqüentemente, sempre com moderação, mas, principalmente, nos divertíamos muito em brincadeiras e gargalhadas.
Emotivo nas ações, era dono de uma alma por demais leve, fruto decerto do enorme coração que carregava. Sua bondade e ingenuidade contrastavam com seu porte físico avantajado ou sua fisionomia carrancuda e quem não o conhecia, não poderia desconfiar do espírito bonachão que se ocultava por trás daquela sua meninice e dos seus trejeitos, exagerados, até.
Irascível em alguns momentos, tinha a capacidade de retornar à normalidade rapidamente, como se nada tivesse acontecido e possuía o raro dom de se desculpar quando se julgava errado, sobretudo nos aspectos interpessoais.
Identificávamo-nos em várias atividades, tínhamos vários gostos em comum. Paixões por motocicletas, bikes e máquinas, embarcações e trecos, além da simpatia por atividades como canoagem, camping ou qualquer coisa que se relacionasse com a Natureza ou aventura.
Perseguidor dos seus ideais, chegou a viajar como tripulante do Pilar Rossi, barco do Piquet que acompanhava o circuito de Fórmula 1, em portos como Lusben Viareggio, Valência, Barcelona e Monte Carlo e pôde assim, saciar, um tanto, sua sede de mar, que o destino acabaria por tirar-lhe.
Impetuoso, tentou evitar o roubo do seu carro, pendurando-se drasticamente por fora do veículo em movimento e colidindo com outro estacionado, o que acabou sendo-lhe fatal. Uma avaliação errônea da casualidade, pouco condizente com sua habilidade de safar-se em situações de perigo, tirou-lhe a vida.
Hoje faz dois anos deste triste episódio. Lamentavelmente, perdi meu amigo. Diz-se que os bons vão-se cedo. Não sei, já vi muita gente boa morrer velha, o que me sugere que Ranildo poderia muito bem estar vivo.
Na sua missa de corpo presente, o sacerdote, no afã de utilizá-lo como exemplo às demais pessoas para não reagirem aos eventuais assaltos a que todos estamos sujeitos, explanou demoradamente sobre as circunstâncias de como ele morreu. Poderia ter mudado o tom do discurso.
Preferiria tê-lo ouvido falar sobre a maneira como ele viveu: com liberdade, sentimento e alegria.
Saudade grande, irmão!
Adauto,
ResponderExcluirMoro em Teresina e o Ranildo era meu primo.
Parabéns pela mensagem. Como se vê, existia uma bela amizade entre vocês.
De vez em quando, a saudade vai apertar...
Você pode até ficar triste, mas tente sorrir.
Mesmo que uma lágrima corra junto com seu sorriso, você deve sorrir, porque tenho certeza, era assim que o Ranildo, como seu amigo, gostava de lhe ver!
Um abraço=)
Frinéia