segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ícaro brasiliano

..."se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes." (Isaac Newton)

Em papo de biriteiros, rolou a pergunta do grande amigo afro-lusitano-açoriano : Por que os brasileiros insistem em afirmar Santos Dumont como o inventor do avião, se se sabe que os irmãos Wright voaram antes dele?
Afora o bairrismo exagerado dos habitantes do nosso colonizado país - compreensivo, até certo ponto - as circunstâncias daquele período de grandes e incessantes descobertas, talvez expliquem a existência da eterna polêmica.
É incontestável, pela data do evento, 17 de dezembro de 1903, que a primazia de se lançar ao ar com um aparelho voador controlado, “mais pesado que o ar”, coube aos irmãos Wilbur e Orville Wright, com seu Flyer 1. Feito reconhecido, inclusive, pela Fédération Aéronautique Internationale.
Os que contradizem a distinção, argumentam que os Wright se utilizaram de uma espécie de catapulta e de uma colina na praia de Kitty Hawk para alavancar o aeroplano, além do fato de não existirem testemunhas e nem registro algum do acontecimento.
Os que a defendem, alegam que os artifícios utilizados eram apropriados para se tirar proveito dos fortes ventos predominantes no litoral da Carolina do Norte, USA e que a falta de documentação motivou-se exclusivamente pela acirrada disputa da patente da criação, já que inúmeros concorrentes em todo o mundo utilizavam-se dos resultados alheios para proveito próprio.
A verdade é que não existe um inventor para o avião. Artefatos que resultam de várias tecnologias são provenientes da condensação do trabalho de muitas pessoas, em diversos campos distintos. Inclusive porque, se o mérito da invenção tivesse que ser dirigido a alguém, o detentor seria o cientista inglês George Cayley, que criou, cem anos antes, um aeromodelo de planador auto-estável, considerado o primeiro aeroplano da história e que serviu de inspiração aos demais modelos advindos.
De fato, o primeiro vôo controlado de um mais pesado que o ar, com propulsão a motor, foi feito pelo francês Clément Ader, em 9 de outubro de 1890; mas, realizado sob segredo militar, somente foi divulgado muitos anos depois. Oficialmente os americanos voaram primeiro, já que o vôo do 14 BIS somente ocorreu em 23 de outubro de 1906.
Porém, quem tiver a curiosidade de se inteirar sobre a história de Santos Dumont, poderá conhecer a sua extraordinária obstinação em se alçar aos ares, desde a última década do século XIX, com seus balões, depois dirigíveis - que quase o mataram, em diversos acidentes – até 1910, ano em que encerrou as atividades da sua oficina, quando começou a sofrer de esclerose múltipla.


Genial em suas idéias e experimentos, foi ele, inquestionavelmente, quem equacionou os problemas de decolagens e aterrissagens, o que lhe rendeu, com muita justiça, o epíteto de “pai da aviação”. Tanto é verdade que, menos de um ano após sua façanha no campo de Bagatelle, todos os inventores aeronautas importantes estavam voando.
Seu revolucionário Demoiselle (1907), precussor do ultraleve, com que o mineiro de Palmira visitava seus amigos aristocratas nos arredores de Paris, pousando nos gramados das mansões campestres para tomar um chá, tornou-se, com a distribuição gratuita dos projetos, o primeiro avião a ser produzido em série na história. Cerca de 300 foram confeccionados pela fábrica Clément Bayard.
Comparando-se as duas imagens abaixo, separadas cronologicamente por menos de 70 anos, comprova-se que a genialidade e talento de um homem, independentemente da nacionalidade ou atribuição de alguma realização, pode colocá-lo em um patamar muito acima dos demais e bem à frente do seu tempo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Questão cultural

Algumas mensagens se perpetuam na internet e esta, que abaixo transcrevo, já roda a algum tempo no mundo virtual.
Não é a primeira vez que a recebo, mas, talvez, motivado pelo civismo que o período eleitoral impôe a todos nós, cidadãos brasileiros, resolví postá-la, na esperança, ainda que vã, que a repetição sistemática desses princípios, possam, mesmo que a largo tempo, incultir algumas verdades nas nossas consciências.
Investigações demonstram que a diferença entre os países pobres e ricos não é a idade.
Isto pode ser demonstrado por países como Índia e Egito, que têm mais de 4000 anos e ainda são muito pobres.
Por outro lado, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, que apenas 150 anos atrás eram desconhecidos, hoje são países desenvolvidos e ricos.
A diferença entre países pobres e ricos tampouco está nos recursos naturais disponíveis.
O Japão possui um território limitado, 80% montanhoso, inadequado para a agricultura e a criação de gado, mas é a segunda economia mundial. Este país é como uma imensa fábrica flutuante, importando matéria-prima de todo o mundo e exportando produtos manufaturados.
Outro exemplo é a Suíça, que não produz cacau, mas tem o melhor chocolate do mundo. Em seu pequeno território cria animais e cultiva o solo durante apenas quatro meses no ano. Não obstante, produz laticínios da melhor qualidade. É um país pequeno que oferece uma imagem de segurança, ordem e trabalho, transformando-o na caixa-forte do mundo.
Executivos de países ricos que se relacionam com países pobres evidenciam que não existe diferença intelectual realmente significativa. A raça, cor da pele tampouco são importantes: imigrantes qualificados como preguiçosos em seus países de origem, são a força produtiva de países europeus ricos.
Onde está então, a diferença?
A diferença é a atitude das pessoas, moldada no decorrer dos anos pela educação e pela cultura.
Ao analisar a conduta das pessoas nos países ricos e desenvolvidos, constatamos que a grande maioria segue os seguintes princípios de vida:
1º - Ética, como princípio básico.
2º - A integridade.
3º - A responsabilidade.
4º - O respeito às leis.
5º - O direito pelos direitos dos demais cidadãos.
6º - O amor pelo trabalho.
7º - O esforço para economizar e investir.
8º - O desejo de superar.
9º - A pontualidade.
Nos países pobres, apenas uma minoria segue esses princípios básicos em sua vida diária.
Não somos pobres porque nos faltem recursos naturais ou porque a natureza foi cruel conosco.
Somos pobres porque nos falta atitude. Falta-nos vontade para cumprir e assumir esses princípios de funcionamento das sociedades ricas e desenvolvidas.
Somos assim por querer tomar vantagem sobre tudo e todos.
Somos assim por ver algo que está mal e dizer: “deixa como está”.
Devemos ter atitudes e memória viva.
Só assim mudaremos o Brasil de hoje.
(traduzido por Jorcelangelo L. Conti)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

FRINFA...

O celular tocou em plena madrugada, contudo, não me encontrou, como seria normal, jogado nos braços de Morfeu.
Naquela noite estava dando uma virada, fazendo o revestimento de um balcão numa loja 24 horas. Serviço que, pelo manuseio de cola de contato e seus odores desagradáveis, somente poderia ser executado naquele turno.
Ainda que em plena atividade às três da manhã, não pude deixar de me alarmar com o avançado da hora da ligação. Era meu companheiro Cesar Herbster que, sem mais rodeios, me bateu, na lata: - Tenho uma notícia ruim para te dar.
Meu coração deu um pulo! Imaginei, naquele momento, que um amigo comum nosso, convalescente de uma intervenção cirúrgica recente e ainda hospitalizado, não tivesse resistido à dura situação que estava atravessando.
Imaginei errado.


Ranildo não foi meu colega de infância, nem mesmo conhecido de longa data. É bem verdade que sua irmã era amiga da minha esposa e nos relacionávamos há muitos anos, mas não a sabia como tal. E até a data da fatídica chamada, fazia pouco mais de dois anos que nos encontráramos, motivados pelo iatismo, esporte que pratico desde pequeno e que, daquele instante em diante, com a compra de um veleiro pelo próprio, passou a fazer parte da realidade dele também.
Voluntarioso e inquieto, propôs-se a recuperar o velho barco e passou a contar com a minha ajuda. Mesmo que, com a sua inexperiência na matéria, inventasse soluções improváveis para certos problemas e que, com a teimosia que lhe era característica, achasse que estava no caminho certo, era capaz de ter idéias criativas e encontrar soluções surpreendentes, por vezes. Imbuídos do mesmo propósito, brigávamos e discutíamos freqüentemente, sempre com moderação, mas, principalmente, nos divertíamos muito em brincadeiras e gargalhadas.
Emotivo nas ações, era dono de uma alma por demais leve, fruto decerto do enorme coração que carregava. Sua bondade e ingenuidade contrastavam com seu porte físico avantajado ou sua fisionomia carrancuda e quem não o conhecia, não poderia desconfiar do espírito bonachão que se ocultava por trás daquela sua meninice e dos seus trejeitos, exagerados, até.
Irascível em alguns momentos, tinha a capacidade de retornar à normalidade rapidamente, como se nada tivesse acontecido e possuía o raro dom de se desculpar quando se julgava errado, sobretudo nos aspectos interpessoais.
Identificávamo-nos em várias atividades, tínhamos vários gostos em comum. Paixões por motocicletas, bikes e máquinas, embarcações e trecos, além da simpatia por atividades como canoagem, camping ou qualquer coisa que se relacionasse com a Natureza ou aventura.
Perseguidor dos seus ideais, chegou a viajar como tripulante do Pilar Rossi, barco do Piquet que acompanhava o circuito de Fórmula 1, em portos como Lusben Viareggio, Valência, Barcelona e Monte Carlo e pôde assim, saciar, um tanto, sua sede de mar, que o destino acabaria por tirar-lhe.
Impetuoso, tentou evitar o roubo do seu carro, pendurando-se drasticamente por fora do veículo em movimento e colidindo com outro estacionado, o que acabou sendo-lhe fatal. Uma avaliação errônea da casualidade, pouco condizente com sua habilidade de safar-se em situações de perigo, tirou-lhe a vida.
Hoje faz dois anos deste triste episódio. Lamentavelmente, perdi meu amigo. Diz-se que os bons vão-se cedo. Não sei, já vi muita gente boa morrer velha, o que me sugere que Ranildo poderia muito bem estar vivo.
Na sua missa de corpo presente, o sacerdote, no afã de utilizá-lo como exemplo às demais pessoas para não reagirem aos eventuais assaltos a que todos estamos sujeitos, explanou demoradamente sobre as circunstâncias de como ele morreu. Poderia ter mudado o tom do discurso.
Preferiria tê-lo ouvido falar sobre a maneira como ele viveu: com liberdade, sentimento e alegria.
Saudade grande, irmão!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Brasil, mostra a tua cara!


A cada década, o país procura fazer um auto-retrato da sua realidade, promovendo o escaneamento do seu território e da situação dos seus habitantes, através de um censo demográfico, valendo-se para tanto, dos trabalhos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Desta vez, na sua 12ª edição, a coleta de informações se dará com o emprego de computadores de mão, utilizados por cada um dos 220 mil recenseadores, que deverão visitar cerca de 58 milhões de domicílios, em 5565 municípios, a um custo de R$ 1,4 bilhão. A informatização do sistema promete mais agilidade na compilação dos dados e divulgação dos resultados.
Apesar do orçamento altíssimo, o serviço se prestará para que as políticas públicas possam ser mais bem direcionadas, que recursos governamentais sejam alocados com maior eficiência e que a população se beneficie das conclusões, que indicarão suas mais reais e prementes necessidades.
Sabe-se dos proveitos oriundos de uma ação como esta. A se lamentar, entretanto, que a nação continue utilizando-se de diretrizes equivocadas a um preço tão elevado, para obter, em largos espaços de tempo, o que poderia possuir cotidianamente, apenas usando os atuais meios tecnológicos de comunicação disponíveis.
O que falta ao Brasil é coesão. Organismos públicos agem com uma prejudicial independência, com um mínimo de, em raríssimas exceções, interação com outros. Não existe uma mútua colaboração entre repartições, em toda e qualquer esfera. Ministérios, estados e municípios disputam entre si dotações, empreendimentos e poder, tal como abutres ávidos por carniça.
Senão, vejamos: a receita federal dispõe das declarações de renda dos seus cadastrados. Os departamentos de trânsito sabem quem são os proprietários de todos os veículos licenciados da união. As juntas comerciais são detentoras dos registros de todas as empresas, em atividade ou encerradas. As instituições de atendimento, como escolas, hospitais, cartórios, casas bancárias e demais organismos públicos/privados, têm números exatos das suas solicitações. As coletorias estaduais controlam o volume de mercadorias que circulam e são comercializadas.
O que falta é um sistema de informação integrado único, que pudesse reunir todos esses elementos. Aliado a declarações da situação individual de todos os habitantes, que poderiam ser anuais (ou ter outra peridiocidade), atreladas ao número do CPF, por exemplo, seria simples e instantâneo se ter conhecimento real das circunstâncias e, portanto, todo esse aparato montado em decênios seria perfeitamente dispensável.
Inclusive porque, todos sabem quais são as urgências no Brasil. Os governantes é que insistem em fechar os olhos.
Estou farto de observar o povo engolfado na mais pura ignorância por falta de educação. De vê-lo definhar nas filas de atendimento da saúde pública. De sabê-lo maltratado nos falhos sistemas de transporte e segurança urbana. De senti-lo abandonado, desesperançoso e perdido na inatividade dos seus estadistas, que relega a juventude ao contato irretornável das drogas, a velhice à triste desassistência e ao cidadão ativo à indignidade da mendicância e à falta de oportunidades.
Triste és, em alguns aspectos, meu lindo país!

domingo, 8 de agosto de 2010

Saudade catalã...


Quijano, Cavaleiro da Triste Figura
Com Rocinante, se atreveu a cavalgar
Por La Mancha, Aragão e Catalunha
Amor, paz e justiça, encontrar

Jamais imaginou que aconteceria
Ver Dulcinea assim tão bela um dia,
Que sorridente lhe acompanharia
Nesta aventura linda d’além mar.


Desde que Clara viajou tem sido assim, esse sentimento dividido, de torcer pela permanência do seu sonho, longe de mim, mas aprendendo, crescendo e vivendo intensamente todas essas maravilhosas experiências que a acompanharão por toda a sua existência; e, ao mesmo tempo, sentindo a extrema necessidade de tê-la pertinho do meu peito, ao alcance dos meus olhos e dos meus braços, ou abraços e de poder vivenciar sua luminosa airosidade e leveza.
Ainda bem que setembro esta quase aí dobrando a esquina e vou poder, enfim, apertá-la junto a mim e sentir seu coração contra o meu.
É meu primeiro dia dos pais longe dela e toda a saudade que me perturba há quase um ano, hoje exacerbou-se.
Amo tu, nêga linda da minha vida!

Dia dos Pais


O que todo pai esperaria dos seus filhos?
Que eles fossem bons, essencialmente bons?
De almas lindas, com índoles integrais, desprovidos de toda e qualquer maldade e que apenas cultivassem o bem?
Que pudessem servir de inspiração nos nossos momentos de introspecção e de parâmetro para as ocasiões de desvanecimento, além de estímulo para a força que tanto necessitamos?
A natureza foi extremamente generosa comigo.
Feliz Dia dos Pais?
Feliz todos os dias da minha vida!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Agosto

Início de semana e uma manhã super clara. Logo cedo o vento forte que sopra nesta época deu mais um daqueles seus pequenos suspiros, como se Eolo buscasse fôlego entre as rajadas, para em seguida prosseguir em sua costumeira faina de refrescar nossas vidas e interrompendo assim o farfalhar das pequeninas folhas das figueiras do quintal; também permitindo, com o maravilhoso e pausado silêncio, que se escutasse, bem ao longe, o som de uma fanfarra, com a batida de seus tambores ditando o ritmo de marcha.
Estranho... Em vinte anos morando aqui, não me recordo de ter escutado antes uma banda por estas bandas. Talvez a direção das correntes de ar, quase sempre tão imutáveis na nossa costa, houvesse sofrido uma variação hoje; ou algum acontecimento inusitado estivesse se desenrolando, sem que eu tivesse tomado conhecimento.
Nada disso: apenas uma escola do ensino fundamental ensaiando sua apresentação para a semana da pátria.
De repente, acordei.
Incrível! Já é agosto, as aulas retornaram e o segundo semestre “inicia-se”. Apenas ontem eram férias e a cidade vivia um frenesi de diversão e descompromisso. Hoje, o mesmo sol iluminará a fronte de cidadãos mais atinados, obrigatoriamente, com a sobrevivência e com um corre-corre que não consegue parar.
Os cajueiros já estão florindo e a partir de agora, com as ventanias, a meninada fará folguedos com suas pipas em batalhas encarniçadas de cerol.
E eu ficarei aguardando a primavera trazer de volta a sombra para a minha varanda.
Enquanto isso, vamos que vamos, que o fim do ano vem aí e nos apanha de calças curtas!