sábado, 17 de dezembro de 2011

REALLY?

Do pensamento do JC, o óbvio ululante mais romantizado do planeta e meu personal gurú, às margens do Lago dos Caramujos.







Do ambiente hostil
O pássaro pode sair voando.
A árvore, em ambiente acolhedor,
Pode ficar integrada.
Já a gente
Quer sair do lugar nem que seja para se mostrar.
Como aqui confesso. Saindo da rede.

                 (Júlio César Montenegro Bastos)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DIANTE DE MIM

DIANTE DE MIM,
TENDO EU MESMO POR TESTEMUNHA
E SOB PENA DE PERDER O RESPEITO POR MINHA PRÓPRIA PALAVRA,
EU ME COMPROMETO A BUSCAR E DEFENDER QUALIDADE DE VIDA
EM TUDO QUE EU FAÇO E EM TODOS OS LUGARES ONDE EU ESTIVER.
E ME COMPROMETO A ESTAR PRESENTE AQUI E AGORA
A DESPEITO DO PRAZER OU DA DOR QUE ESTE MOMENTO ME TRAZ
FAZENDO A PARTE QUE ME CABE
DO MELHOR MODO QUE EU SEI,
SEM ME QUEIXAR DO MUNDO, NEM CULPAR OS OUTROS
POR MEUS ERROS E FRACASSOS,
MAS ANTES ME ACEITANDO IMPERFEITO, LIMITADO E HUMANO.
E MESMO QUE TUDO RECOMENDE O CONTRÁRIO,
EU ME COMPROMETO A AMAR, CONFIAR E TER ESPERANÇA
SEM QUAISQUER LIMITES OU CONDIÇÕES.
E, EMBORA EU SÓ POSSA FAZER PEQUENO,
EU ME COMPROMETO A PENSAR GRANDE
E A PREPARAR-ME COM DISCIPLINA E CORAGEM
PARA OS IDEAIS QUE AINDA ESPERO E VOU ALCANÇAR,
SABENDO QUE TUDO COMEÇA SIMPLES E SINGELO.
DE CORPO, CABEÇA E CORAÇÃO,
EU ME COMPROMETO CRESCER MUITO E SEMPRE,
DE TODOS OS MODOS POSSÍVEIS,
DE TODOS OS JEITOS SONHADOS.

(GERALDO EUSTÁQUIO)

domingo, 20 de novembro de 2011

PRETO NO BRANCO

     
     Eu havia recém completado onze anos, quando os americanos, em 20 de julho, pisaram pela primeira vez na Lua, naquela que foi considerada a maior aventura do homem. O ano era 1969 e menos de um mês depois acontecia Woodstock, o famoso festival que exponenciou a contracultura e popularizou o movimento hippie e a sua máxima de “paz e amor”, refrão daquela geração e das proximamente subseqüentes.
     Os tempos eram de mudanças drásticas e repentinas. Em outubro daquele semestre, Médici, o chefe do SNI à época do AI-5, tomava posse como presidente do Brasil, para realizar o governo mais repressivo e obscuro da história do país. E em novembro, Pelé marcava seu milésimo gol, bradando, durante a comemoração e em tom de alerta, a necessidade de se direcionar cuidados à infância abandonada da nação; profecia não ponderada pelas autoridades e de conseqüências nefastas tão conhecidas por nós.
     E em dezembro, como de costume, eu desembarcava no casarão dos meus avôs, para mais uma das inesquecíveis férias da série “ser feliz é tudo que se quer”.
     O sobrado dos velhos ficava no centro de Fortaleza, era estreito e comprido, com ambientes espaçosos, um quintal de muitas plantas, que se integrava prazerosamente com a parte aberta posterior do imóvel e, nos altos, voltado para a rua, um quarto enorme com sacada, local onde invariavelmente me instalava em redes embaladas por sonhos e anseios primaveris; e também por resenhas musicais, sociais ou esportivas irradiadas pelo principal meio de comunicação de uma era ainda existente, o rádio.
     Na noite da sexta-feira que antecedeu o Natal, confortavelmente estendido na minha “philomeno”, balançando-me ao ranger dos armadores, acompanhava atentamente no meu aparelhinho de pilhas, uma das partidas finais do campeonato norte-nordeste de futebol, disputado entre as equipes do Ceará, campeão da região nordeste - e pela qual já nutria uma inexplicável empatia - e a do Remo, clube do Pará e campeão da região norte.
     O escrete alencarino havia sido batido no primeiro jogo da série, em Belém, pelo placar de 2x1 e se via na obrigação de devolver o resultado e forçar uma terceira contenda. Caso contrário, veria o Leão Azul levantar a taça mais cobiçada do futebol fora do eixo SP/RJ, as potências do esporte daquele tempo.
     Foram momentos tensos. O time do Ceará perdia de 2x0 até a metade do segundo tempo, mas o destino iria modificar, com uma pilheriedade incomum, a história do clube e, porque não dizer, a minha também.    
      Não sei se por falta de artifícios visuais, mas a impressão que eu tenho é que os narradores de antigamente traduziam mais facilmente em palavras o que presenciavam, reportando com mais vivacidade o que os seus olhos viam. O fato é que fui completamente absorvido pelo magistral “crooner” e transportado, pelo esfuziante entusiasmo do radialista, para dentro da cancha desportiva.
     Parte da torcida já abandonava o estádio quando, aos 22 minutos Magela descontou, reacendendo a chama e a esperança do que já parecia perdido. Mais dez minutos, Zezinho empatou a partida e colocou fogo no velho PV.  E no finalzinho, aos 43, Gildo, o maior goleador da trajetória do “Vovô” em todos os tempos, numa cabeçada certeira, tornou realidade o que apenas vinte minutos antes parecia impossível. A primeira virada a gente nunca esquece!
     Já existia profissionalismo no futebol cearense de então, mas havia também muito amor às agremiações e isso era notório, evidente. Gildo comemorou tanto o seu improvável feito que desmaiou em campo de tanta emoção. A mesmíssima emoção que o tresloucado locutor transmitiu e que fez com que eu não conseguisse dormir por algumas horas.
     Iria acontecer uma decisiva peleja. E eu não poderia deixar de estar lá e testemunhá-la.
    Assim, no domingo seguinte à tarde, saí de casa decidido – bons tempos aqueles em que garotos não corriam perigo em deslocamentos urbanos solitários – e caminhei ansiosamente pela longa Senador Pompeu até a Gentilândia.  Adentrei a praça esportiva embasbacado: era tudo muito grande, ou eu era muito pequeno... ou os dois. Arquibancadas apinhadas de torcedores, um burburinho inquietante, a apreensão pela batalha. O show estava para começar.
     Mesmo vivenciando uma situação inusitada e no meio daquela algazarra toda, me senti tranqüilo. Ainda não existia nos estádios espaços delimitadores para facções distintas, nem torcidas uniformizadas ou organizadas. O espaço era democrático, camisas azuis e alvinegras dividiam os lugares harmoniosamente. Lembro-me de ter visto, inacreditavelmente aos dias atuais, várias bandeiras adversárias atadas com nós nas extremidades, em gestos elegantes de aceitação e amizade, já perdidos no tempo, lamentavelmente. Haveria uma rixa ali, mas ela se restringiria às linhas demarcatórias do gramado.
     E foi o que aconteceu. Eu já gostava de futebol desde sempre e não desperdiçava uma única oportunidade sequer de praticá-lo, mas nunca antes tivera a oportunidade de admirar toda a plasticidade do maravilhoso esporte de maneira tão patente. Encostado ao alambrado, sentidos aflorados, pude ouvir o som seco da bola sendo atingida com violência, perceber o esforço dos jogadores, bufando vigorosamente pela disputa da pelota; escutar a troca de palavreado, numa modalidade também exercida com o gogó, e suas subjetividades decorrentes, como a catimba e a malandragem, existentes e manifestas ao contato auditivo.
     Para um batismo, o resultado não poderia ser mais gratificante. Com gols de Gildo, Magela e Gojoba, o Ceará marcou 3x0 e se tornou campeão do Norte e Nordeste do Brasil de 1969. E eu me tornei, inexorável e irremediavelmente, torcedor do mais querido.
     Ao trinar derradeiro do árbitro Romualdo Arpi Filho, as demonstrações de alegria incontida, gritos, muito choro e extravasada emoção apenas confirmaram o que eu já me apercebera: eu encontrara definitivamente o meu ambiente. E desde então, amo este time como uma extensão de mim mesmo.


    

domingo, 19 de junho de 2011

Sôbre a importância de ti...


Viestes, assim como hoje se repete, num domingo resplandecente, de uma alvura poucas vezes vista, desde então. E escolhestes para nascer a hora em que o Sol consegue espargir sua potência radiante com maior intensidade.
Não havia uma única nuvem nos céus naquele dia e a luminosidade, aqui normalmente tão impactante sobre os nossos cristalinos, possuía um brilho ainda mais magnífico, tornando a ocasião cintilante, até, sobretudo para mim, que vivenciava no espírito um fulgor, por aquela sensação jamais experimentada.
Porém, não foi por nada disso, em absoluto, que te chamastes Clara.
Ainda que dificilmente conseguíssemos te dar um nome tão condizente com a tua figura quanto o que para ti escolhemos, a verdade é que até o momento mágico da tua eflorescência, tanto eu, quanto tua mãe, sequer sabíamos o sexo do bebê que estava por vir. Tínhamos preferência de nomes para ambos os gêneros, mas bastou colocar os olhos sobre ti para nos convencermos, nitidamente, que você era a Clara. Recordo-me da tua mãe, embevecida, com você, pedacinho de gente, sobre o seu peito, indagando-me: - Ela não se parece com Clara? - Claro, totalmente demais.
Tua tia Maninha, em escrito que ainda guardo, disse para Ana Lúcia que ela soube como ninguém da família escolher o nome da filha: estava certíssima.
Tornartes-te, naturalmente, com o teu encanto tão peculiar, o xodó da casa, a “Princesinha de Bagdá”, a queridinha de todos. E não era para menos: sempre possuístes esta tua aura aveludada, esta leveza de espírito que chega a transmitir aos mais próximos a paz que de ti emana.
Imaginei com a tua chegada que, de uso da minha “vasta experiência”, te apresentaria o mundo, te ensinaria a viver, te converteria numa pessoa boa.
Contudo, o destino se incumbiu de mostrar-me o quanto eu aprenderia e ainda aprendo contigo. O quanto te tornarias determinante na minha existência, o tanto que irias colorir o meu caminho; o que ainda fazes com um talento prodigioso!
És, sem dúvida, o meu divisor de águas: transmutei-me como pessoa, quando você nasceu. Você foi a mola propulsora para o crescimento interno que se processou dentro do meu ser.
Faz 28 anos agora. Hoje és esta mulher glamurosa, bela, que exala simpatia e carisma por todos os poros. Mas para mim, serás sempre a Caia, a minha neguinha que eu carregava no colo, enquanto enchia de beijos o seu cangote.
Que o mundo possa te ofertar o que existe de mais maravilhoso. Que a natureza contemple tua vida com bonança, saúde e prosperidade. Possues a alma graciosa e o coração bom: é só o que importa.
Feliz aniversário, ó detentora de vastos territórios da minha essência.
Agrada-me repetir indefinidamente: te amo com tudo que posso e ser teu pai me torna mais humano!

Beijo do pai, filha linda.

Chaval, 19/jun/2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Trintinha nos couros!


Metafísica
Em Platão e o mundo das essências.
Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, Cap. 6

Numa festa, oferecida por um poeta que ganhou um prêmio por sua poesia, conversam cinco amigos e Sócrates. Um deles afirma que todos os deuses recebem hinos e poemas de louvor, mas nenhum foi feito ao melhor dos deuses, Eros, o amor.
Propõe, então, que cada um faça uma homenagem a Eros dizendo o que é o amor.
Para um deles, o amor é o mais bondoso dos deuses, porque nos leva ao sacrifício pelo ser amado, inspira-nos devotamento e o desejo de fazer o bem. Para o seguinte, é preciso distinguir dois tipos de amor: o amor sexual e grosseiro e o amor espiritual entre as almas, pois o primeiro é breve e logo acaba, enquanto o segundo é eterno. Já o terceiro afirma que os que o antecederam limitaram muito o amor, tomando-o apenas como uma relação entre duas pessoas. O amor, diz ele, é o que ordena, organiza e orienta o mundo, pois é ele que faz os semelhantes se aproximarem e os diferentes se afastarem.. O amor é uma força cósmica de ordem e harmonia do universo.
O quarto prefere retornar ao amor entre as pessoas e narra um mito. No princípio, os humanos eram de três tipos: havia o homem duplo, a mulher dupla e o homem-mulher, isto é o andrógino. Tinham um só corpo, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. Como se julgavam seres completos, decidiram habitar no céu. Zeus, rei dos deuses, enfureceu-se, tomou de uma espada e os cortou pela metade.
Decaídos, separados e desesperados, os humanos teriam desaparecido se Eros não lhes tivesse dado órgãos sexuais e os ajudasse a procurar a metade perdida. Os que eram homens duplos e mulheres duplas amam os de mesmo sexo, enquanto os que eram andróginos amam a pessoa do sexo oposto. Amar é encontrar a nossa metade e o amor é esse encontro.
Finalmente, o poeta, anfitrião da festa, toma a palavra dizendo: Todos os que me precederam louvaram o amor pelo bem que faz aos humanos, mas nenhum louvou o amor por ele mesmo. É o que farei. O amor, Eros, é o mais belo, o melhor dos deuses. O mais belo, porque sempre jovem e sutil, porque penetra imperceptivelmente nas almas; o melhor, porque odeia a violência e a desfaz onde existir, inspira os artistas e poetas, trazendo a beleza ao mundo.
Resta Sócrates. “Não poderei falar”, diz ele. “Não tenho talento para fazer discursos tão belos”. Os outros, porém, não se conformam e o obrigam a falar. “Está bem”, retruca ele, “Mas falarei do meu jeito”.
Com essa pequena frase, Platão mudará todo o tom do diálogo, pois, “falar do meu jeito” significa: Não vou fazer elogios e louvores às imagens e aparências do amor, não vou emitir mais uma opinião sobre o amor, mas vou buscar a essência do amor, o ser do amor, vou investigar a idéia do amor.
Sócrates também começa com um mito. Quando a deusa Afrodite nasceu, houve uma grande festa para os deuses, mas esqueceram-se de convidar a deusa Penúria (Pênia). Miserável e faminta, Penúria esperou o final da festa, esgueirou-se pelos jardins e comeu os restos, enquanto os demais deuses dormiam. Num canto do jardim, viu Engenho Astuto (Poros) e desejou conceber um filho dele, deitando-se ao seu lado. Desse ato sexual nasceu Eros, o amor. Como sua mãe, Eros está sempre carente, faminto, miserável; como seu pai, Eros é astuto, sabe criar expedientes engenhosos para conseguir o que quer.
Qual o sentido do mito? Nele descobrimos que o amor é carência e astúcia, desejo de saciar a fome e a sede, desejo de preenchimento, desejo de completar-se e de encontrar a plenitude. Amar é desejar o amado como o que nos completa, nos sacia e satisfaz, nos dá plenitude. Amar é desejar fundir-se na plenitude do amado e ser um só com ele.
O que pode completar e dar plenitude a um ser carente? O que é em si mesmo completo e pleno, isto é, o que é perfeito. O amor é desejo de perfeição.
O que é a perfeição? A harmonia, a proporção, a integridade ou inteireza da forma. Desejamos as formas perfeitas. O que é uma forma perfeita? A forma perfeita, acabada, plena, inteiramente realizada, sem falhas, sem faltas, sem defeitos, sem necessidade de transformar-se, isto é, sem necessidade de mudar de forma. A forma perfeita é o que chamamos de beleza. O amor é o desejo de beleza.
Onde está a beleza nas coisas corporais? Nos corpos belos, cuja união engendra uma beleza: a imortalidade dos pais através dos filhos. Onde está a beleza nas coisas incorporais? Nas almas belas, cuja beleza está na perfeição de seus pensamentos e ações, isto é, na inteligência.
Que amamos quando amamos corpos belos? O que há de imperecível naquilo que, por natureza, é perecível, isto é, amamos a posteridade ou a descendência. Que amamos quando amamos almas belas? O que há de imperecível na inteligência, isto é, as idéias. O amor pelos corpos belos é uma imagem ou uma sombra do amor do imperecível, mas o amor pelas almas belas é o amor por algo que é em si mesmo e por si mesmo, imperecível e absolutamente perfeito.


Somente porque hoje fazemos trinta anos de namôro!


Little Coq, meu amor querido,


Como se pode perceber pelo interessante texto, filósofos e poetas divagam desde tempos imemoriais sobre as sutilezas, a consistência (ou a falta dela)... a natureza do amor.
Ainda que a tentativa da compreensão “dele” seja instigante, é infinitamente mais satisfatório vivê-lo, simplesmente.
Conviver com ele; esperá-lo, às vezes impacientemente, tocá-lo, olhá-lo, cheirá-lo, sentí-lo, ...enfim! Ocasionalmente, ainda que irracionalmente, afastá-lo, mesmo que por curto espaço de tempo. Mas, invariavelmente, buscá-lo como um bem imprescindível.
Naturalmente que não poderia partir de mim uma enunciação definitiva do assunto: muitos tentaram; poucos conseguiram, mesmo assim, incompletamente.
Contudo, posso falar sobre o sentimento que assola a minha alma, que inquieta e ao mesmo tempo, apascenta o meu espírito.
Do enorme bem que você me faz!
A conclusão que a autora filósofa parece chegar é que a beleza corporal não passa de uma espécie (e que espécie, hem?) de atrativo, um “feromônio” com fins de aprimoramento da espécie, ao passo que o amor pelas almas belas seja o modelo da perfeição: - Talvez isso explique a facilidade que é amar você.
Já que o amor verdadeiro é imperecível, posso afirmar categoricamente, não sem plagiar o poetinha, que tenho a absoluta convicção que te amarei, enquanto vida eu tiver.
Tu és, e creio que sabes disso, a melhor coisa que jamais poderia ter acontecido na minha existência.
E aconteceu!